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Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio

Publicado em 15 de agosto de 2023

https://www.fotografandocuritiba.com.br/2017/07/sociedade-operaria-beneficente-13-de.html (15/08/2023)

Solidariedade e Sociabilidades

Na Rua Clotário Portugal, ao final da Alameda Princesa Isabel, fica uma das mais antigas sociedades formadas por pessoas negras no Brasil do pós-Abolição. A “Treze de Maio”, como ficou conhecida, foi fundada em 6 de junho de 1888, na residência de um homem negro, João Batista Gomes de Sá, localizada na Rua do Mato Grosso (atual Comendador Araújo). Tinha como objetivos auxiliar os seus sócios em caso de pobreza e moléstia, bem como de promover o funeral quando a família não tivesse recursos para fazê-lo. Nesse sentido, conservava alguns aspectos da tradição constituída pela união em torno de irmandades, especialmente os de proteção e amparo nas dificuldades (ver Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, neste roteiro). O estatuto também previa a realização de celebrações nos dias 13 de Maio, em comemoração à assinatura da Lei Áurea, e no 28 de Setembro, data que em 1871 foi promulgada a Lei do Ventre Livre. Assim, interessava aos fundadores e sócios da “Treze” preservar uma memória relacionada à conquista da liberdade, o que certamente tinha uma grande importância para pessoas o que certamente tinha uma grande importância para pessoas que, além da discriminação decorrente do racismo, eram associadas ao estigma da escravidão.

Após a Abolição, formaram-se por todos o país agremiações de negros intituladas “Treze de maio”. A que se formou em Curitiba é uma das poucas que se mantém em funcionamento ininterrupto até os dias atuais. A sede em que atualmente funciona foi construída em terreno cedido pela prefeitura no final do século XIX.

Ao longo de sua existência, a sociedade adquiriu diferentes denominações. Nos anos iniciais, algumas notícias na imprensa eram publicadas em nome do Club Treze de Maio; no estatuto de 1896 foi incorporado o termo “Beneficente”, ficando o nome Club Beneficente Treze de Maio; foi só na década de 1930 que a sociedade adotou a denominação “Operária”, tornando-se, então, Sociedade Operária Beneficente Treze de Maio, nome que permanece ainda hoje.

Fontes Históricas

Dezenove de Dezembro, 8 de maio de 1889.

Menos de um ano após a data da Abolição da escravidão, a Sociedade 13 de Maio denunciava no jornal o racismo com que tinha de confrontar, nesse caso, praticado por meio do recrutamento forçado de pessoas negras associadas.

Boletim do Arquivo Público do Paraná. Ano 6, n. 9, 1981. Esse registro mostra que a Sociedade mantinha uma escola noturna, reforçando o que se sabe sobre a importância que a educação escolar assumiu para a população negra, vista como uma maneira de integração mais favorável na sociedade e mesmo de ascensão social.  Ele também evidencia que quase dez anos depois da primeira denúncia feita pela associação, o recrutamento forçado continuava incidindo sobre os associados da “Treze”.

População negra ligada ao associativismo em manifestação pública na praça Tiradentes. Foto de Arthur Wischral feita provavelmente em 1913. Casa da Memória da Fundação Cultural de Curitiba. Embora a frente do estandarte não esteja visível, é provável que o grupo em primeiro plano, que o conduz, seja formado por pessoas associadas à Sociedade 13 de Maio. A imagem mostra a grande presença feminina. Embora não tivessem presença nas diretorias, as mulheres eram personagens importantes na agremiação, atuando por meio dos grêmios que organizavam, como o das Camélias e o Flor de Maio. A imagem mostra a grande presença feminina. Embora não tivessem presença nas diretorias, as mulheres eram personagens importantes na agremiação, atuando por meio dos grêmios que organizavam, como o das Camélias e o Flor de Maio. Fotografia sem informação de autoria e data. Acervo da Fundação Cultural de Curitiba.

Memória

Embora tenha admitido pessoas brancas na agremiação, a maior parte dos sócios-fundadores da Sociedade 13 de Maio e de seus primeiros associados era formada por negros que haviam vivenciado a experiência da escravidão até poucos anos antes da Abolição. Entre eles, Vicente Moreira de Freitas, que, desde quando escravizado, exercia o ofício de pedreiro e que se tornou liberto em 1884. A família de Vicente até hoje guarda com orgulho lembranças de seu antepassado; entre outras, fazem menção ao fato de ele ter sido um dos fundadores da “Treze”, de ter tido participação importante em outra agremiação – a Sociedade Protetora dos Operários – e de, na década de 1880, ter trabalhado nas obras de reconstrução da Catedral de Curitiba – então Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

Vicente Moreira de Freitas – fotografia sem data, feita por Clarissa Grassi a partir da fotografia dos túmulos no Cemitério Municipal de Curitiba.

Um território negro na cidade

Até hoje a Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio permanece como um território negro na cidade de Curitiba, promovendo atividades culturais e de mobilização importantes. Entre os eventos que valorizam a identidade negra na cidade estão as comemorações do 13 de maio.

Também os eventos festivos denominados Um Baile Bom, além de oportunizar o encontro, o lazer, a sociabilidade e o empoderamento de pessoas negras de Curitiba – jovens, na maioria – configuram uma territorialidade negra na cidade. Na perspectiva da história, esses eventos mantêm vivos e ressignificam os objetivos que levaram homens e mulheres negras a criarem espaços de sociabilidade e de luta no contexto do Pós-Abolição, representando a força viva e atual da história da presença negra em Curitiba.

Facebook –Sociedade 13 de Maio. https://www.facebook.com/soc13demaio/?locale=pt_BR (15/08/2023).

ROCHA, Flávio. s.s. Um Baile Bom: música, identidade e empreendedorismo negro. Brasil de Fato, 22/04/2017. https://www.brasildefatopr.com.br/2017/04/22/um-baile-bom-musica-identidade-e-empreendedorismo-negro

Quer saber mais? Você pode acessar as fontes que consultamos para elaborar esse conteúdo e outras mais que listamos a seguir.

Sobre a Sociedade 13 de Maio de Curitiba:

FABRIS, Pamela B. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio (verbete). Dicionário AfroSul https://afrosul.com.br/sociedadetrezemaio/

FABRIS, Pamela B.; HOSHINO, Thiago A. P. Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio: mobilização negra e contestação política no Pós-Abolição. In: MENDONÇA, Joseli M. N. e SOUZA, Jhonatan Uewerton. (orgs.) Paraná Insurgente – História e Movimentos Sociais, século XVIII ao XXI. São Leopoldo: Casa Leiria, 2018. http://www.humanas.ufpr.br/portal/paranainsurgente/paranainsurgente.html

FREITAS, Nei Luiz Moreira de. Celebração do 13 de Maio: subsídios para elaboração de uma proposta de registro de patrimônio cultural imaterial. Monografia de Conclusão de Curso. UFPR, 2018.

HOSHINO, Thiago A. P.; FIGUEIRA, Miriane. Negros, libertos e associados: identidade cultural e território étnico na trajetória da Sociedade 13 de Maio (1888-2011). Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2012.

SANTIAGO, Fernanda L. Sociedade 13 de Maio: uma estratégia de sobrevivência no Pós Abolição (1888-1896). Monografia de Conclusão de Curso. UFPR, 2015. http://www.humanas.ufpr.br/portal/historia/files/2015/07/MONOGRAFIA-FERNANDA-L-SANTIAGO.pdf

Lembranças que  família de Vicente Moreira de Freitas preserva sobre seu antepassado pode ser conhecida em entrevista realizada pela equipe do projeto com a Senhora India Fabre. https://afrosul.com.br/india-maria-freitas-fabre/

Aspectos da trajetória associativa de Vicente e seus descentes estão publicados em: MENDONÇA, Joseli M. N. e FABRIS, Pâmela B. Freitas e Brito: trajetória de uma família negra na Curitiba do final do século XIX e início do XX. Pós-abolição no sul do Brasil. Associativismo e trajetórias negras. Salvador: Sagga, 2020, pp. 227-248. https://afrosul.com.br/wp-content/uploads/2019/11/livro_PosAboli%C3%A7aoNoSul2.pdf

Uma trajetória de João Batista Gomes de Sá, em cuja casa foi fundada a Sociedade 13 de Maio: FABRIS, Pâmela B. João Batista Gomes de Sá (verbete). Dicionário AfroSul. https://afrosul.com.br/joaobatistagomesdesa/

Como fazer a referência deste conteúdo: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. PROJETO DE EXTENSÃO AFROCURITIBA. https://afrocuritiba.ufpr.br/mapa/ . Acesso em [data do acesso].


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