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Praça Tiradentes

Publicado em 21 de outubro de 2023

Desde o Largo da Matriz, múltiplas vivências

A atual Praça Tiradentes já foi denominada Largo da Matriz. Desse lugar, podemos retomar múltiplas vivências de pessoas negras na cidade, em tempos diversos.

Vivências de escravidão

Na Matriz eram batizadas crianças nascidas de mulheres escravas e libertas. Até o final do XIX, o registro de batismo era o documento que oficializava a existência de uma pessoa, pois não havia então o registro civil, como conhecemos atualmente (o primeiro cartório de registro civil em Curitiba foi instituído em 1876). Na Matriz também eram registrados casamentos entre pessoas escravizadas. Os documentos a seguir evidenciam essas experiências vivenciadas na escravidão.

Registro de Batismo

Registro do Batismo de Nataria, filha de Luzia, escrava do Capitão Manoel Mendes Pereira. Foram padrinhos Manoel da Rocha e Brizida Sobrinha. O registro foi feito em 10 de fevereiro de 1723. MATRIZ NOSSA SENHORA DA LUZ DE CURITIBA. Livro de Batismos, n. 1, 1704-1737. (cópia digital disponível do CEDOPE – Centro de Pesquisa e Documentação da Universidade Federal do Paraná).

Registro de Casamento

Registro do casamento de Damiam, africano de Nação Mina, com Lizarda, crioula [nascida no Brasil], ambos escravos do Capitão Gaspar Correa Leite. O registro foi feito no dia 22 de janeiro de 1773 na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz da Vila de Curitiba. Ventura, escravo do mesmo Capitão Gaspar Correa Leite e Mateus, escravo do Guarda-Mor Francisco Martins Lustosa foram testemunhas. Ambos assinam o registro com cruzes. MATRIZ NOSSA SENHORA DA LUZ DE CURITIBA. Livro de Casamentos, n. 3, 1762-1784, p. 4. (cópia digital disponível do CEDOPE – Centro de Pesquisa e Documentação da Universidade Federal do Paraná).

Famílias Escravas

Os registros de nascimento e de casamento de escravizados evidenciam a formação de famílias escravas. Embora nem sempre fosse fácil manter os membros dessas famílias juntos, isso foi um desafio enfrentado pelas pessoas que viviam na condição de escravidão. Desde a década de 1980, vários historiadores têm mostrado não só a existência, como a pujança da família escrava.

Vivências do Pós-Abolição: dignidade e cidadania

A Praça Tiradentes era um importante lugar de manifestações cívicas ocorridas na cidade. Nesses eventos, grupos que se organizavam em associações ou sociedades – de trabalhadores, imigrantes de uma etnia específica, de pessoas negras – expunham-se publicamente, objetivando demonstrar sua dignidade e sua união . A imagem abaixo mostra a importante presença de pessoas negras em uma dessas manifestações, ocorrida no início do século XX. É quase certo que fossem membros da Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio (cuja localização é indicada nesse percurso). A foto mostra a forte presença de mulheres e crianças, o que nos faz pensar que a família fosse importante para esse grupo não apenas nas vivências domésticas, mas também nas ações que realizavam no espaço público, ajudando a compor a imagem de dignidade que procurava comunicar. Para essa comunicação, contribuía o apuro no vestir-se.

Pessoas negras em manifestação pública na Praça Tiradentes. Sem informação de data e de autoria. Acervo Casa da Memória – Fundação Cultural de Curitiba.

Na atualidade: ressignificações por dignidade e respeito

A Praça Tiradentes, desde muito, é um local importante para religiões matriz africana, em especial para o Candomblé. Um conjunto de árvores ali existente, desde a década de 1980, foram consagradas e em torno delas se realizam práticas religiosas importantes. Por muito tempo a essas práticas não foi dada publicidade, pelo temor de repressão. Ultimamente, os praticantes do candomblé vêm reivindicando o direito de realizar publicamente seus ritos, como ocorre com as demais religiões professadas na cidade.

Esses aspectos são tratados por Rômulo Miranda, em depoimento realizado no âmbito do Projeto Lugares de Axé, que iniciou o mapeamento de terreiros de Candomblé da cidade de Curitiba, descrevendo seis deles.

A praça também é local de prática de capoeira

A praça é um local de prática de capoeira. Informativo do Centro Cultural Humaitá. https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/2019/01/02/roda-de-rua/


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